quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Pra ser Blues, precisa vir da alma


Sempre que fico realmente impressionado com o talento de um guitarrista, costumo dizer que quando o cara chega em casa a guitarra abana o rabinho. Mas se “o cara” fosse o Stevie Ray Vaughan, aí a guitarra abanaria o rabo, daria pirueta, deitaria e rolaria, faria de tudo. Só não conseguiria se fingir de morta. Por falar nisso, no dia 27 de agosto, faz 22 anos que ele se foi. E esse post é uma homenagem. Stevie morreu em 1990, em um acidente de helicóptero, e faz muita falta. Se me pedissem para citar os três guitarristas de Blues que mais gosto (o que seria muita maldade, fala a verdade?!), SRV estaria nela.

Sem dúvida alguma, tem SRV na minha vitrola. Mais que isso, também tem na minha humilde coleção de DVDs. Stevie Ray Vaughan and Double Trouble Live From Austin, Texas é uma mostra de dois shows marcantes, pois mostra momentos bem distintos da carreira do guitarrista tocando no Austin City Limits ao lado de Tommy Shannon (baixo) e Chris Layfon (bateria) – o Double Trouble –, exatamente no estado onde nasceu.

A primeira apresentação, em 1983, mostra um SRV irreverente, ousado, surpreendente e hipnotizante, como sempre. Com um figurino muito peculiar, o bluesman deixa explícita sua intimidade com a boa e velha (e surrada, bem surrada!) Fender. No meio de Texas Flood, por exemplo, como num passe de mágica, o cara solta um lado da correia da guitarra e quando coloca de novo está tocando a danada atrás das costas. Confesso que demorei um pouco pra entender o que ele havia feito. Apesar de toda essa magia, há o outro lado do show: SRV parece estar tocando mais para si mesmo do que para o público.

Em 1989, SRV e o Double Trouble voltam acompanhados do tecladista Reese Wynans. Repaginados, fazem uma apresentação bem diferente. Agora com 35 anos de idade, SRV se mostra mais à vontade, mais maduro e conectado com a plateia. Continuam valendo os mesmos adjetivos do parágrafo anterior, e é notório que o guitarrista está sóbrio, seja no sentido figurado ou literal (pelo que li sobre o show, ele havia abandonado o álcool e as drogas). Até sua voz tem mais brilho. A combinação de todos esses fatores envolve as pessoas ao redor, que correspondem e agradecem.

Acho que SRV é o “bluseiro” mais Rock’n’Roll que já ouvi. E digo que é, assim mesmo no presente, porque esse cara é imortal, tal qual Jimmy Hendrix, Gary Moore e alguns outros gênios musicais. Vai aí um pouquinho do talento de SRV com Crossfire.