Já vou deixar bem claro que sou
muito suspeito para dizer, mas é incrível como algumas músicas ou bandas e até
mesmo álbuns marcam determinadas épocas de nossas vidas. Em alguns casos, é
tudo isso junto. Sempre que adolescência e Natal ocupam um mesmo pensamento,
logo me vêm à mente as festas de final de ano na casa da minha tinha Ina
(cunhada da minha mãe, a Dona Helena). A família toda se juntava por lá. A
segunda lembrança, de imediato, é minha passagem (sem volta!) para um novo
universo do Heavy Metal, uma pedreira como nunca tinha ouvido. Me refiro ao
álbum Restless and Wild, para mim o
maior clássico da banda alemã Accept.
Em meados da década de 1980, eu
acabara de descobrir o Rock’n’Roll, por influência dos meus primos e boa parte
de seus amigos. Me lembro como se fosse hoje, um dos camaradas que era mais
adepto das roupas pretas, coturnos e cinturão de tachas (nem pense em citar a
palavra “Metaleiro”, pois era praticamente um insulto) apareceu com uma fita
K-7 que tinha a foto da banda na caixinha e disse: “Vocês precisam ouvir isso
aqui!”. Quando começou a rolar, ninguém entendeu nada. A reprodução era de um
vinil antigo com uma canção, isso mesmo, uma canção em alemão interpretada por
uma voz feminina.
Exatos 19 segundos é o tempo
necessário para mudar tudo. O ruído que surge nesse momento dá a impressão de
que o vinil (para os que se lembram, claro) foi riscado de fora a fora. A
partir daí, não dá para se responsabilizar pelas consequências. O grito de Udo
Dirkschneider, o “gigante” vocalista da banda, aparece rasgando os tímpanos.
Qualquer chance de escapar é eliminada rapidamente pelo primeiro riff de guitarra. As esperanças terminam
quando entra a batera e o resto da banda. Já era! Shake your heads para todo o sempre.
Até aquele momento, o único
Rock’n’Roll que eu conhecia de origem alemã era o dos Scorpions, banda de
cabeceira até hoje (qualquer dia desses conto a história do World Wild Live). Mas, específica e
restritamente nesta situação, a parada é outra. O Accept, sobretudo aquele
Accept, tem minha eterna gratidão por me mostrar o caminho para novas vertentes
da energia e do peso do Metal.
Sim, me empolgo muito ao
falar desse álbum, lançado em 1982 pela antiga CBS Records (comprada em 1987
pela Sony). O disco inteiro – são dez faixas – é vibrante demais e o trabalho
de duas guitarras é maravilhoso. Tem muito peso, riffs marcantes, solos na medida exata, arranjos entusiasmantes e detalhes
que fazem muita diferença sem perder a essência. É difícil comentar esta ou aquela
faixa, mas se pegar pelas extremidades dá para ter uma ideia muito clara do que
estou falando. De um lado, a abertura com Fast
as a shark, e do outro a Princess of the
dawn. A emoção é a mesma em todas as vezes que ouço.