domingo, 20 de novembro de 2016

O disco que pedi a Deus!

Incluir uma “bolacha” nas preces é quase um flerte com a heresia, mas alguns discos são tão valiosos – em vários sentidos – que podem até ser considerados um presente divino. Que o diga Rogério Sarralheiro, produtor musical e vocalista do Templo Soul, uma das bandas pioneiras de Black Gospel no Brasil. Para ajudar a visualizar melhor o estilo do grupo, imagine o Earth, Wind and Fire: aquele groove envolvente dos anos 1970, o brilho da metaleira, o peso do baixo e da bateria e os acordes “funkeados” da guitarra. Dá até vontade de dançar! A única diferença é que as letras dos caras são mensagens de louvor a Deus. Sem qualquer exagero, o som do Templo Soul é uma festa Gospel.

Voltemos à história do Rogério. Como boa parte dos garotos apaixonados por música e que para ter sua grana começam a ralar bem cedo, quando ele tinha ali por volta dos 16 ou 17 anos deixava quase todo seu salário em lojas de discos. “Eu trabalhava no centrão de São Paulo (a capital paulista), próximo à Avenida Angélica, e frequentava diversos sebos ali da região”, lembra o cantor. Em uma de suas muitas visitas a esses pequenos pedacinhos do “paraíso”, encontrou algo que se tornaria objeto de desejo.

A joia em questão era uma coletânea do The Commodores. “Tinha um cara comprando o disco e eu fiquei ali pirando enquanto ele ouvia as faixas. O play era maravilhoso!”, lembra Rogério, que só pensou em uma coisa: “Meu Deus do céu, preciso ter esse disco”. Mas como tudo tem um preço nessa vida, lá foi o adolescente fascinado checar quanto custava aquela obra-prima. Já dá para imaginar que a informação do vendedor não foi animadora. “Era muuuuuito caro. Para comprar um disco naquela época, às vezes ia o salário do mês.” Em se tratando de Commodores, valia a pena, pois é um dos maiores nomes mundiais da Black Music.

O grupo nasceu no final dos anos 1960 e logo no comecinho de carreira abriu shows para os Jackson Five. A história de amor de muita gente foi marcada por sucessos da banda como “Easy”, “Three Times a Lady”, “Still” e “Just to Be Close to You”. Essa veia amorosa é uma forte característica do vocalista, pianista e um dos principais integrantes: Sir Lionel Ritchie. O “Sir” foi por nossa conta. Em 1980, os caras também gravaram “Jesus Is Love”. O Gospel e a Black Music sempre tiveram uma relação muito estreita, tanto que grandes estrelas de Funk, Soul, Blues e Rythm & Blues (R&B) surgiram nos conjuntos e corais das igrejas.

Quando se fala de Commodores, não há como terminar sem um final feliz. Hoje Rogério é um colecionador de vinis, e tem em seu acervo a preciosa coletânea que um dia esteve fora de seu alcance. “Quando encontrei o disco novamente, lembrei de toda aquela história, da falta de grana para comprar. Os bons discos eram em grande parte importados e caros, o que dificultava o acesso”, conta o vocalista, que não desperdiçou a nova oportunidade. “Esse disco é algo muito marcante e tem tudo a ver com o som que fazemos hoje”, diz, satisfeito.

Se é assim, vamos nessa! Sobe o som e pode se divertir com esse clipe de “Lady (You Bring Me Up)”, uma das faixas dançantes do The Commodores. 





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