Trabalhar o bom humor como
elemento musical não é para qualquer um, ou quaisquer dois. Por isso gosto
tanto de André Abujamra (sim, o filho do provocador Antonio “Ravengar” Abujamra)
e Maurício Pereira, também conhecidos como Os Mulheres Negras. A dupla surgiu
nos anos 1980 e se dizia a menor big band do planeta. Tal denominação só pode
vir de gente com alguma artéria humorística. Adoro essa parte! Mas o melhor
mesmo é a qualidade musical e a incontrolável necessidade de inovar.
Na minha vitrola, tenho o
segundo álbum dos Mulheres, o Música Serve
Pra Isso, lançado em 1990. A compra do CD foi como a de muitos outros, sem
conhecer as faixas mas certo de que não me arrependeria.
A primeira vez que vi os caras
ao vivo foi no vão do MASP, na programação do Som do Meio-Dia, uma série de
apresentações musicais gratuitas que tornavam mais interessante a hora do
almoço na Av. Paulista. Assisti ao show com um amigo, o Gerê. Ele entrava no trabalho
às 13h, a alguns quarteirões dali, e eu estava desempregado. Era o divertimento
perfeito, pois minha disponibilidade de grana era inversamente proporcional à de
tempo.
Era inevitável se
perguntar: Como só dois caras vestindo roupas engraçadas (um sobretudo e um
chapeuzinho de palha) conseguem fazer tanto som em cima desse palco? Tinha de
tudo: guitarra distorcida, metaleira, música regional, ponto de umbanda, versões,
uma loucura! Maurício Pereira cantava e tocava os instrumentos de sopro, principalmente
saxofone. Abujamra era o multifuncional, pois além de dividir os vocais e tocar
guitarra, comandava tudo o que tinha de som eletrônico: baixo, bateria e
efeitos sonoros especiais. Em Monstros
Japoneses (está no Música Serve Pra Isso),
Abujamra simulava um canhão com o braço da guitarra e, à ordem de “Fogo!”,
disparava contra o público.
Tenho uma história cômica de
quando vi o Mulheres no extinto Aeroanta, casa importante do cenário musical
paulistano. Como cheguei um pouco cedo ao local, havia várias mesas
disponíveis. Uma garçonete se aproximou e perguntou se eu esperava mais alguém,
mas estava sozinho, como em diversos outros shows. Então ela sugeriu uma mesa
de uma pessoa só (?). Achei estranho, mas aceitei a sugestão. E não é que o
lugar, um canto de poltrona, só tinha espaço para uma pessoa? A garota com quem
eu namorava na época certamente não acredita nisso até hoje!
John, a quinta faixa do Música Serve Pra Isso, foi a mais tocada na época do lançamento do
disco. Com uma pegada de hard rock, ficou bastante conhecida pelo trecho em que
Abujamra canta, com uma voz rasgada característica de Rock’n’Roll, a seguinte
frase: “Ai, meu Deus do céu! Ai, minha Virgem Maria!”. A música também tem
pegadinha, pois começa duas vezes. Pena que não dá para conferir neste vídeo recente
que encontrei da dupla dinâmica no Estúdio Showlivre.