terça-feira, 5 de julho de 2016

Até o Metallica já foi um ilustre desconhecido

No início dos anos 2000, um dos principais nomes do Heavy Metal internacional, o Metallica, passou a atrair os holofotes muito mais por conta de questões judiciais do que pela performance nos palcos ou por algum lançamento. A banda, que sempre teve uma legião de adolescentes entre os milhões de fãs pelo mundo, engrossava a queda de braço da indústria fonográfica exatamente com um jovem que aos 18 anos bolou uma forma de compartilhar músicas pela internet, deixando muita gente de cabelo em pé ou, em certos casos, sem cabelo.

A pesada treta entre o ícone do Metal e Shawn Fanning, criador do Napster, deixou claro que as coisas estavam mudando – e rápido – no cenário musical. Na verdade, continuavam a mudar. Exemplo de que o destino pode ser bem irônico, e até cômico, foi algo semelhante ao Napster que levou o Metallica a se popularizar entre os headbangers brasileiros. Na década de 1980, quando a banda surgiu, era por meio das fitas K-7, precursoras dos pen drives, que a rapaziada compartilhava o que havia de novo no front do som pesado.

Foi assim que, naquela época, muita gente soube que vinha por aí um tal de Kill ’Em All, o primeiro disco do Metallica. É o caso de Evandro Junior, baterista e um dos fundadores do Anthares, banda paulistana de Metal nascida em 1985. Junior também era um dos vários moleques de camiseta preta que batiam cartão (ninguém mais bate cartão, mas a expressão ainda é válida, não é?) na Woodstock Discos. A lendária loja do Vale do Anhangabaú, no centro velho de São Paulo, provavelmente reunia a maior concentração de cabeludos por metro quadrado da cidade.

Mas o primeiro encontro do Junior com o Metallica aconteceu quando a Woodstock ainda ficava na Rua José Bonifácio, também nas proximidades. “Era um espaço pequeno, na sobreloja de uma galeria. E tinha um japonês que ficava na entrada vendendo umas fitas de coisas que só tinha na gringa”, lembra. “Um dia ele me perguntou se eu conhecia Metallica e colocou para eu ouvir. Era uma porrada!”

A fita era uma mostra do que viria a ser o Kill ‘Em All e ainda com seguinte formação: James Hetifield (guitarra e voz), Lars Ulrich (bateria), Cliff Burton (baixo) e, tchanans!, Dave Mustaine (guitarra). Quem conhece a trajetória da banda sabe que essa é uma informação importante, pois Mustaine foi expulso da banda (mais de uma vez) devido às confusões com o próprio grupo. Digamos que ele era um tanto quanto esquentadinho demais. Quem aparece no encarte do disco é Kirk Hammett.

Empolgado com o som, Junior comprou a fita e correu para compartilhar. “Fui eu que apresentei o Metallica para o Walcir”, conta o batera todo orgulhoso, falando de Walcir Chalas, o dono da loja. Realmente, esse é um feito para se gabar, pois o fundador da Woodstock consagrou-se com um baita “garimpeiro” das novidades do Metal. Não era fácil surpreendê-lo. Quando Kill ‘Em All saiu, em julho de 1983, logo já estava também nas mãos de Walcir. 

Quem quiser conhecer um pouco da história desse bravo “guerreiro” do Metal, vale a pena assistir ao documentário Woodstock – Mais Que Uma Loja (disponível no Netflix). Muitos vão se surpreender com sua influência nesse cenário e um monte de marmanjo vai se emocionar ao lembrar do tempo em que não abria mão de visitar a loja ao menos uma vez por semana. 

Vai aí uma mostra do Metallica ao vivo com The Four Horsemen, uma das faixas mais marcantes do Kill ‘Em All. Agora, imagina essa paulada lá no início dos anos 1980. 



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