domingo, 15 de maio de 2016

A ansiedade pode levar ao “paraíso”

Prestes a encarar o primeiro dia na nova escola, a garota de 11 anos está ansiosa e acorda bem mais cedo do que deveria. Preocupada com as horas ela corre para ligar a televisão e sintonizar no canal em que costumava assistir aos videoclipes, pois lá sempre aparece um reloginho. Assim que a imagem e, principalmente, o som aparecem, horas e minutos já não mais interessam. A curiosidade agora é para saber que música é aquela e quem são aqueles caras. A informação não vem e ela fica com medo de nunca mais ouvir ou ver a banda que tanto a surpreendeu. Mas identifica uma palavra recorrente nas imagens: Guns.

Se o parágrafo aí em cima parece fugir um pouco ao estilo do Vitrola, foi proposital. Foi só para passar a emoção da história que nos contou Isa Nielsen, a garota em questão, que entrava na adolescência já sendo fã do bom e velho Rock’n’Roll e de suas variáveis, como o Hard Rock e o Heavy Metal. E a música que a deixou tão entusiasmada naquela manhã era Paradise City, do Guns N’Roses. Toda essa influência explica um pouco o fato de Isa ter se tornado uma primorosa guitarrista.

Desta vez, foi a música que trouxe a “bolacha”. Paradise City é a sexta das 12 faixas de Appetite for Destruction, o cartão de visitas do Guns N’ Roses. Lançado em 1987, o disco deu uma chacoalhada no cenário do Hard Rock, que andava mesmo precisando de novidades. A dupla na linha de frente da banda inspirou uma legião de cabeludos mundo afora: Axl Rose, com sua voz rasgada e uma euforia contagiante, e Slash, com sua cartola e riffs de guitarra revigorantes. Prova disso é que Sweet Child O’Mine, o principal sucesso daquele disco, era quase obrigatória no set list das bandas cover de Rock.  

Por falar em bandas, Isa está há quatro anos entre as Musas do Metal, que acompanham o Detonator, personagem criado por Bruno Sutter (ex-Hermes & Renato) como uma caricatura dos vocalistas de Heavy Metal e que acabou ganhando vida própria. Mais recentemente, ela entrou para a Metal Mania, a banda do Robertinho de Recife (já entrevistado pelo Vitrola). Além de excepcional guitarrista, Robertinho é um músico exigente, que não abre mão da qualidade. Isa não está lá por acaso.

O interesse pela guitarra veio lá pelos 13 anos e em seguida, a primeira banda – só de garotas. “Mas eu não tocava bem e a outra guitarrista, que era um pouco melhor, até chamou um amigo para ensinar a gente. Acabei gostando muito dessa coisa de estudar”, conta Isa, que levou a sério essa parada e passou a ter aula com grandes músicos. A partir dali sua carreira profissional já estava definida. Mas para tocar como os guitarristas que a influenciaram, era preciso ralar muito. “A dedicação exclusiva à música não é fácil. Em alguns momentos você até sacrifica outras coisas.” Agora, pergunte a ela se há um pingo de arrependimento pela escolha...

Não resistimos à tentação de colocar Isa em uma “saia justa” e perguntamos quem são seus três guitarristas preferidos. “Pô, que difícil, hein?”, reagiu. Pô, Isa, é aí que está a graça da brincadeira. Mas ela acabou se saindo bem. Após falarmos sobre diversos nomes de peso no quesito “véio, esse toca demais”, ela destacou Yngwie Malmsteen e Jason Becker. “Ambos foram um grande incentivo para mim, pois são muito virtuosos. Tentar tocar suas músicas parecia tão difícil quanto desafiador”, comenta. As referências lhe fizeram muito bem.

Vai aí o clipe de Paradise City, para lembrar o som que marcou o Hard Rock nos anos 1990. Quem quiser, pode chacoalhar a cabeleira!



domingo, 8 de maio de 2016

Um boteco que reúne quatro décadas de boa música

Entre as coisas que mais gosto nesta vida está a companhia de bons amigos. Se for para celebrar, melhor ainda. Pois foi exatamente na comemoração do aniversário de uma grande amiga, a jornalista Nádia Andrade, que conheci um boteco – no melhor sentido da palavra – muito simpático e aconchegante no bairro de Pinheiros, na capital paulista. Em meio a uma região de diversos bares e botecos, o Bar do Julinho tem um diferencial muito bacana: o lugar respira boa música!

Não poderia ser de outra maneira. O dono do recinto é Julinho Camargo, cantor e violonista com 40 anos de experiência tocando na noite. Nascido em Tupaciguara, cidade que fica a pouco mais de 60 quilômetros de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, Julinho veio muito cedo para São Paulo. “Estou aqui desde sempre, me criei na cidade”, confirma o músico, que começou a tocar por volta dos 17 anos, participando dos festivais estudantis. Depois veio a fase mais profissional, tocando em bandas de baile e, na sequência, as apresentações na noite.

Como muita gente que seguiu essa trajetória, uma das influências mais importantes da Música Popular Brasileira é Djavan, uma referência para dez entre dez músicos que fazem MPB com voz e violão. E a “bolacha” do artista que mais marcou a carreira de Julinho foi Luz, gravado em Los Angeles, na Califórnia (Estados Unidos), e lançado em 1982. Embora já tocasse coisas do Djavan dos outros quatro discos, Luz fez jus ao nome. Surpreendente e ousado, o disco trazia uma envolvente e inovadora mescla de sons e estilos.

Além da música que dá nome ao disco, várias outras das dez faixas viraram sucessos que brilham até hoje, como Pétala, Açaí, Capim e Samurai. Esta última, inclusive, contou com a participação de Stevie Wonder, um dos maiores nomes da música mundial. É dele o solo de gaita que aparece na música. Segundo o próprio Djavan (em entrevista ao baterista Charles Gavin, no programa O Som do Vinil, do Canal Brasil), seu trabalho já havia sido apresentado a Wonder pelo produtor do disco, Ronnie Foster, o que facilitou a aproximação. Mas, cá entre nós, é muita moral!

Esse amor e esse respeito de Julinho pela (boa) música também estão na relação que mantém com os artistas que se apresentam em seu bar, sejam veteranos ou em início de carreira. “Quando a pessoa da casa é um músico com experiência de ter tocado na noite, a relação é outra. Antes de qualquer coisa, é uma relação de músico para músico. O lado comercial é importante, mas antes de qualquer coisa preservo a amizade e o respeito entre as pessoas”, comenta. Não é por acaso que o bar vai completar 18 anos.

Julinho acrescenta que sua experiência também favorece a performance dos músicos, pois estão seguros da retaguarda técnica. Ou seja, quando tocam em seu bar sabem que só precisam se preocupar em tocar e cantar, o resto ele garante. “Me dá uma satisfação muito grande ver o resultado positivo da apresentação de um amigo na minha casa”, afirma. O Bar do Julinho também é palco de projetos que abrem espaço para os artistas, sobretudo novos talentos, e dão luz à MPB.

Aí vai uma apresentação do Djavan cantando Samurai, mas sem o Stevie Wonder (uma pena!).