O fascínio e a admiração por uma
“bolacha” podem ser tão marcantes que até definem o início da trajetória
artística de diversos músicos. Certamente ainda contaremos muitas dessas
histórias aqui no Vitrola. Na verdade, vamos começar agora mesmo. Mas desta vez
a influência vai além da sonoridade e entra na praia do humor. Foi o que
aconteceu com Carlos Kozera, grande amigo e parceiro de “palhaçadas”. Artista com
várias habilidades e reconhecido pelo trabalho apresentado no Youtube, Kozera conta
que despertou para o que realmente queria fazer da vida após conhecer um disco
histórico.
Em meio a uma reunião de família,
uma prima apareceu empolgadíssima para compartilhar o som que trazia em uma fita
cassete. “Ela colocou para tocar e era algo bem diferente. No meio das músicas
os caras iam falando um monte de besteira e palavrões”, lembra. Aquela raridade
era uma cópia do primeiro e único disco de estúdio dos Mamonas Assassinas, um
grupo de cinco jovens da cidade de Guarulhos, na Grande São Paulo, que
conquistou um público gigantesco. Se por um lado as cômicas canções daquela
rapaziada criaram um certo clima de constrangimento na família Kozera, por
outro soaram como um convite para quem só queria saber de jogar futebol, andar
de skate e tocar violão.
“Os caras quebraram várias
barreiras, pois diziam toda aquela sacanagem com uma linguagem que agradava
praticamente todo mundo”, comenta Kozera. “Sem contar que tocavam muito,
cantavam muito e tinham letras geniais.” Sua principal conexão com o trabalho dos
Mamonas foi exatamente a mistura de música e humor. Kozera é daqueles camaradas
que leva muito a sério a história de “perco o amigo mas não perco a piada”. A cada
cinco de suas frases, pelo menos três sugerem uma tiração de sarro. O resultado
costuma ser positivo, mas há exceções. “Quando estudei teatro no Senac, acabava
sempre indo para o lado do humor, mas os professores me fizeram entender que
não precisa ser assim.”
O disco homônimo dos Mamonas foi
gravado em 1995 pela EMI, lançado em vinil, CD e K-7, e vendeu mais de três
milhões de cópias. Formada por Dinho (vocal), Bento (guitarra), Júlio
(teclado), Samuel (Baixo) e Sérgio (bateria), a banda tinha origem no
Rock’n’Roll (quando ainda se chamava Utopia) mas ganhou espaço misturando tudo
quanto é estilo musical e situações cotidianas que pudessem render uma boa
gargalhada. A irreverência e o carisma atraíram fãs de todas as idades e
classes sociais. Tanto que há 20 anos lamentamos a perda do grupo em um
acidente de avião.
A arte dos Mamonas continua viva
na memória de uma legião de fãs e na influência ao trabalho de inúmeros
artistas. “Sei tocar quase todas as músicas daquele disco. Sempre que há uma
roda de amigos e um violão, Mamonas é certeza de diversão e música boa”,
confirma Kozera, que também é malabarista, anda em pernas de pau, integra o
grupo de palhaços Los Marmotas e faz parte do elenco do canal Nomegusta no
Youtube (com mais de 3 milhões de inscritos!). Em sua opinião, o humor é um
caminho valioso para quebrar as barreiras que separam as pessoas, ainda mais
nos dias de hoje em que cresce a tendência de cada um se fechar em seu universo
particular de comunicação virtual. “Quando alguém faz uma piada, uma
brincadeira, chama a atenção das outras pessoas, contagia, aproxima.” Que assim
seja!
Vai aí um clipe dos Mamonas
Assassinas com “Pelados em Santos” e a icônica Brasília amarela.