É o suficiente para botar a
“bolacha” na vitrola e mandar ver no volume. Não há outra maneira de ouvir
Rock’n’Roll quando se trata de Hélcio Aguirra, mais um dos grandes músicos do
Hard Rock paulistano a se despedir. O cara morreu esta semana, com apenas 54
anos de idade. Sem sombra de dúvidas, influenciou muita gente com seus riffs
pesados e solos marcantes, que soavam meio “crus” mas que na verdade tinham o
toque de sofisticação na medida certa. E olha que na primeira vez que o vi
tocando ao vivo, fiquei meio desconfiado. Melhor explicar logo.
Quando ouvi falar em Hélcio
Aguirra, ele ainda era guitarrista do Harpia, banda de Heavy Metal que marcou
os anos 80 com o vinil “A ferro e fogo”. Adorava o som dos caras! Eis que em
março de 1986 (se não me engano), surge a oportunidade de vê-los em ação em um
show no Teatro Arthur Azevedo, na Mooca. Também estaria no palco o Platina,
trio formado por Daril Parisi (o primeiro guitarrista que vi fazendo cover de
“Bark at the moon”) e os irmãos Busic – Andria e Ivan (hoje, Dr. Sin).
Para minha momentânea frustração,
no lugar do Harpia se apresentaria um tal de “Golpe de Estado”. E aí surge um
vocalista que mais parecia uma mistura mal-sucedida de Mick Jagger com Steven
Tyler. Como eu disse, foram apenas alguns minutos achando que iria pedir o
dinheiro do ingresso de volta. Bastou olhar melhor para ver que Hélcio Aguirra
estava ali. Ufa! E a cozinha da banda tinha Paulo Zinner na batera e Nelson
Brito no baixo. Uau! E o vocalista? Putz... Nunca mais esqueci do nome
“Catalau”. Era muita energia em um único ser. Saí daquele show querendo pagar o
dobro, pois estava diante do quarteto mais Rock’n’Roll da apocalíptica
megalópole.
Daí pra frente, toda vez que possível,
corria para vê-los. E uma dessas vezes foi muito especial. Contei outro dia
aqui (Homenagem
ao Blues “Brazuca”) de uma matéria que escrevi para a Revista Top Rock
sobre guitarristas, quando ainda estava na faculdade (o texto não foi
publicado, pois o editor achou que eu falava demais sobre os músicos, que era matéria
comprada, ou sei lá o quê...). Além de André Christovam, Faíska e Wander Taffo,
tive o prazer de conversar com o Hélcio, logo após a passagem de som para um
show do Golpe.
O cara foi sensacional. Eu era
apenas um foca perdido no Aeroanta (favor não confundir os “animais”) e ele me
deu toda a atenção possível. No final, ainda me sai com essa: “Quer ver a gente
mais tarde? Se quiser, deixo seu nome na porta”. Imagina se eu não fui... A
última vez que o vi foi na Expomusic do ano passado. Passei por ele mas não
pude parar, e quando voltei ele já não estava mais. Uma pena.
Como o negócio aqui é falar da
vitrola, fico com o CD “Golpe de Estado”, gravado pela Baratos Afins em 1986. Não
há muito o que explicar, é preciso ouvir para sentir a vibração do “underground”,
inclusive da faixa que leva esse nome. Mas me identifico especialmente com “Olhos
de Guerra”, pois era o meu recreio quando fazia parte do Lapso da Razão, uma
banda só de covers formada por amigos muito engraçados. Quando tocávamos essa música
e eu entrava no solo, a galera praticamente me esquecia. E eu viajava!
O grande Hélcio Aguirra vai fazer
muita falta. Além de muito som bacana, deixou um monte de boas histórias. O vídeo
abaixo foi gravado exatamente no show que citei do Golpe no Aeroanta. Independentemente
de qualquer coisa, um registro bem legal.