sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Hélcio Aguirra: só um minuto de silêncio!

É o suficiente para botar a “bolacha” na vitrola e mandar ver no volume. Não há outra maneira de ouvir Rock’n’Roll quando se trata de Hélcio Aguirra, mais um dos grandes músicos do Hard Rock paulistano a se despedir. O cara morreu esta semana, com apenas 54 anos de idade. Sem sombra de dúvidas, influenciou muita gente com seus riffs pesados e solos marcantes, que soavam meio “crus” mas que na verdade tinham o toque de sofisticação na medida certa. E olha que na primeira vez que o vi tocando ao vivo, fiquei meio desconfiado. Melhor explicar logo.

Quando ouvi falar em Hélcio Aguirra, ele ainda era guitarrista do Harpia, banda de Heavy Metal que marcou os anos 80 com o vinil “A ferro e fogo”. Adorava o som dos caras! Eis que em março de 1986 (se não me engano), surge a oportunidade de vê-los em ação em um show no Teatro Arthur Azevedo, na Mooca. Também estaria no palco o Platina, trio formado por Daril Parisi (o primeiro guitarrista que vi fazendo cover de “Bark at the moon”) e os irmãos Busic – Andria e Ivan (hoje, Dr. Sin).

Para minha momentânea frustração, no lugar do Harpia se apresentaria um tal de “Golpe de Estado”. E aí surge um vocalista que mais parecia uma mistura mal-sucedida de Mick Jagger com Steven Tyler. Como eu disse, foram apenas alguns minutos achando que iria pedir o dinheiro do ingresso de volta. Bastou olhar melhor para ver que Hélcio Aguirra estava ali. Ufa! E a cozinha da banda tinha Paulo Zinner na batera e Nelson Brito no baixo. Uau! E o vocalista? Putz... Nunca mais esqueci do nome “Catalau”. Era muita energia em um único ser. Saí daquele show querendo pagar o dobro, pois estava diante do quarteto mais Rock’n’Roll da apocalíptica megalópole.

Daí pra frente, toda vez que possível, corria para vê-los. E uma dessas vezes foi muito especial. Contei outro dia aqui (Homenagem ao Blues “Brazuca”) de uma matéria que escrevi para a Revista Top Rock sobre guitarristas, quando ainda estava na faculdade (o texto não foi publicado, pois o editor achou que eu falava demais sobre os músicos, que era matéria comprada, ou sei lá o quê...). Além de André Christovam, Faíska e Wander Taffo, tive o prazer de conversar com o Hélcio, logo após a passagem de som para um show do Golpe.

O cara foi sensacional. Eu era apenas um foca perdido no Aeroanta (favor não confundir os “animais”) e ele me deu toda a atenção possível. No final, ainda me sai com essa: “Quer ver a gente mais tarde? Se quiser, deixo seu nome na porta”. Imagina se eu não fui... A última vez que o vi foi na Expomusic do ano passado. Passei por ele mas não pude parar, e quando voltei ele já não estava mais. Uma pena.

Como o negócio aqui é falar da vitrola, fico com o CD “Golpe de Estado”, gravado pela Baratos Afins em 1986. Não há muito o que explicar, é preciso ouvir para sentir a vibração do “underground”, inclusive da faixa que leva esse nome. Mas me identifico especialmente com “Olhos de Guerra”, pois era o meu recreio quando fazia parte do Lapso da Razão, uma banda só de covers formada por amigos muito engraçados. Quando tocávamos essa música e eu entrava no solo, a galera praticamente me esquecia. E eu viajava!

O grande Hélcio Aguirra vai fazer muita falta. Além de muito som bacana, deixou um monte de boas histórias. O vídeo abaixo foi gravado exatamente no show que citei do Golpe no Aeroanta. Independentemente de qualquer coisa, um registro bem legal.