Quando passei minha fase radical
do Rock’n’Roll e me permiti ouvir o que não fazia parte da trilha sonora
diária, fiquei pasmo com tantos artistas fantásticos que estava deixando de
conhecer. Em pouco tempo, minhas preferências musicais tomaram proporções que
eu jamais imaginara. E a partir daí, só aumentaram. Em meio a esse desbravar de
fronteiras, comecei a prestar atenção no Chorinho, que apesar do nome, me
cativou exatamente pela alegria que transmite. Para mim, é algo semelhante ao
Blues, que mesmo tendo dissabores e frustrações como inspiração, sempre me
passa um sensação muito boa.
Foi nessa transição que conheci
Alfredo da Rocha Vianna Filho, o Pixinguinha, flautista, saxofonista,
compositor e arranjador. O que mais gosto em sua música é o jeito divertido,
leve e contagiante (no Blues, eu o veria como o B.B. King, e vice-versa). Nas
poucas imagens que assisti sobre sua arte, parece estar sempre de bem com a
vida. Na verdade, nem precisaria vê-las, pois tenho essa mesma impressão quando
ouço as melodias rápidas que tirava de seus instrumentos. São muitas notas
dentro do mesmo compasso, mas é algo tão envolvente que nem penso nisso.
Pixinguinha compôs sucessos
imortais como Carinhoso, Lamento, Rosa, Página de dor e
muitos outros. Nasceu no Rio de Janeiro, em 23 de abril de 1897. Era taurino,
como meu pai. O que não quer dizer nada, só acrescentei essa informação para
dizer que o velho Venâncio também me deixou de herança um disco do flautista.
Em 1970, ano em que nasci, a Abril Cultural lançou uma série de vinis chamada
Música Popular Brasileira. Meu pai trabalhava na Editora Abril naquele início
de década, e deve ter ganhado a “bolacha”, não sei por qual razão. Eram discos
menores do que os long plays, porém
maiores do que os compactos (os “disquinhos”).
Já conhecia o som do Pixinguinha
quando prestei atenção nesse vinil. Foi uma descoberta. Era divertido, e
curioso, toda vez que eu e minha irmã mais velha, a Roseli, decidíamos olhar a
discoteca do meu pai. Sempre achávamos um nome que tínhamos acabado de conhecer
e nem sabíamos que estava ali, tão perto. Acho que passamos tempo demais sem
ter uma vitrola em casa. Hoje também não tenho um toca-discos para ouvir esses
vinis, mas há muito mais opções de onde e como encontrar as músicas que estão
neles. E quando houver uma oportunidade de apreciar esse disco do Pixinguinha,
vai tocar muito bem, pois está muito bem conservado.
No vídeo abaixo dá para ter uma
ideia da simpatia do mestre Pixinguinha.