sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Sgt. Pepper’s pode ser ainda melhor quando se chega aos 64

Ainda não conheci alguém cuja vida não tenha uma trilha sonora. Pode ser uma única musiquinha, mas sempre há uma faixa que marca algum momento na trajetória da pessoa. Em alguns casos, porém, a música pode significar muito mais. É por isso que decidi compartilhar aqui a intensa relação que meu amigo e parceiro de trabalho Nelson Rentero tem com o Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band. Essa clássica “bolacha” dos Beatles foi lançada em 1º de junho de 1967 e traz faixas históricas como Lucy in the Sky With Diamonds e With a Little Help From my Friends. E também a que dá origem à coluna desta semana: When I’m Sixty-Four.


No domingo passado, o Nelson, como ele mesmo diz, bateu nos 64. Dias antes perguntei se haveria um “arrasta pé” para comemorar. Em tom de brincadeira, claro, pois conhecendo um pouco de seu gosto musical, imagino que estaria mais para uma roda de amigos em torno de algumas garrafas de vinho ouvindo John Coltrane, B.B. King ou até alguma das estrelas de Buena Vista Social Club (quem sabe, todas elas). Nada disso! Este ano a celebração seria discreta. Confesso ter me surpreendido com a seriedade da resposta. Seria a atual situação do nosso time do coração o motivo? Acho que não, o Corinthians não anda merecendo tamanha atenção.

Eis que, alguns dias após seu aniversário, Nelson me aparece com uma mensagem, praticamente uma crônica, sobre seus 64 anos e o Sgt. Pepper’s. Para mim, estava ali um presente, pois era exatamente o tipo de história que gosto de publicar aqui no Vitrola. Pois bem, Nelson conta que conheceu a “bolacha” quando ainda tinha 17 anos, um período em que parecia ser um desperdício ficar pensando sobre como seria chegar aos 64 anos de vida. Não para Sir Paul McCartney, que escreveu  When I’m Sixty Four quando ainda era adolescente.

Embora goste bastante de Beatles e tenha ótimas recordações de suas músicas, não conheço muito bem Sgt. Pepper’s. Mas os amigos sempre ajudam a enriquecer o conhecimento, e foi o Nelson que me contou sobre a inspiração de Paul para compor a música. O eterno baixista dos Beatles, embora ainda não fosse um Beatle à epoca, se inspirou em seu sexagenário pai, que estava prestes a se aposentar. Acabou escrevendo uma declaração de amor. A letra é mesmo muito interessante.

Sgt. Pepper’s marcou aquele período da vida do Nelson e, sem dúvida, influenciou demais não só suas preferências musicais como sua maneira de respirar cultura. “Ouvi, refleti, reouvi, discuti inúmeras vezes sempre querendo entender o formato harmônico daquele vinil, seus arranjos inovadores, a miscelânea temática do conteúdo, as possibilidades do rock misturado ao erudito, a genialidade dos quatro inglesinhos mais George Martin”, conta ele.

Isso já seria o bastante para descrever a intensidade dessa relação. Mas não para por aí. Em 2007, Nelson estava em Londres sem se dar conta de que era o ano de aniversário de quatro décadas do Sgt. Pepper’s. Não só o ano, mas o dia exato. E soube disso ao ver uma movimentação no mínimo curiosa em frente à principal loja da Virgin Records. Buscou saber do que se tratava e, para sua surpresa, as pessoas ali aguardavam a abertura das vendas do CD comemorativo dos 40 anos do Sgt. Pepper’s. A adolescência veio à tona e Nelson imediatamente se enfiou naquela fila. “Ninguém ali sabia da dimensão do que sentia... Era como se adquirisse um ingrediente da minha vida in loco, puro, da lata!!!”, recorda.


É mesmo difícil saber a dimensão da emoção do Nelson naquele momento, mas não tenho dúvida de que sempre haverá uma música, um álbum, um show que nos faça viajar no tempo e abrir um grande sorriso. Não encontrei um vídeo com os Beatles cantando When I’m Sixty Four, nem do Paul em carreira solo. Mas curti muito essa interpretação das MonaLisa Twins. 




sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Já são três anos sem Gary Moore

Quando comprei meu primeiro CD do Gary Moore, o After Hours, ainda não tinha uma noção tão clara do que representaria aquele momento. Sabia que era um guitarrista de respeito, que fazia um Blues mais veloz, bem próximo do Hard Rock, mas não conhecia muito mais do que as lendárias Still Got The Blues e Parisienne Walkways. Depois de ouvir o disco inteiro, meu conceito do que é um guitarrista mudou e minha lista dos prediletos acabara de ser alterada. Há músicos de Rock’n’Roll que mandam muito bem tocando Blues, e vice-versa. Mas sempre deixam claro qual é seu habitat. O Gary Moore é diferente, é universal.

No dia 6 de fevereiro de 2011, quando soube de sua morte, descobri que minha admiração por seu talento e seu carisma eram bem maiores do que imaginava, tamanha tristeza pela notícia. Várias foram as situações em que ao me sentir meio desanimado, começar o dia meio sem graça, botava o After Houras na vitrola e parecia receber uma descarga elétrica, daquelas que fazem a gente sair rodopiando com o cabelo em pé. Only Fool in Town é um exemplo claro de tudo isso. O peso da faixa vem de uma mistura maravilhosa da guitarra distorcida com uma metaleira que enche a música. E ainda tem a cozinha que não para de martelar um instante. 

Outras faixas trazem essa mesma receita, como Key of Love e Cold Day in Hell, que abre o disco. Alguém poderia perguntar: “mas se é a mesma receita, não fica repetitivo?”. Aí está um dos diferenciais do Gary Moore. Mais do que técnica, agilidade e precisão, sua maneira de tocar tem um lado emocional impressionante. Basta ouvir para perceber. Se puder ver, então, fica hipnotizado. E tem outro fator que é o ponto mais alto de sua performance: a intimidade com a guitarra. Gary Moore tem um bend poderoso demais. Cada nota que “estica” parece fazer a guitarra uivar de prazer.

Em After Hours também há bons exemplos de como o Blues pode ser dançante. É o caso de Don’t You Lie to Me e Since I Met You Baby, faixa que tem a participação de ninguém menos que B.B. King. Aliás, toda vez que os dois subiram juntos em um palco muita gente ficou de queixo caído. Como não poderia deixar de ser, um bom álbum de Blues deve ter sua parcela melancólica, que fica por conta de Separate Ways, Jumpin’ at Shadows e Nothing’s the Same.

Esse guitarrista é muito mais que tudo isso. Ele tinha um comprometimento intenso e impecável com sua música, com seu instrumento. E com seus companheiros de estrada. Ao conhecer melhor sua carreira, descobri quão importante foi sua parceria com Phill Lynott dentro do Thin Lizzy, banda irlandesa que marcou a história do Rock’n’Roll e influenciou muita gente. Não por acaso, também passei a curtir muito o Thin Lizzy.

Gary Moore morreu aos 58 anos de idade, de parada cardíaca, enquanto passava férias na Espanha. Mas, sem dúvida alguma, deixou uma obra que é eterna. Vou deixar aqui um pedacinho dela.