sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Ozielzinho: complexidade nas mãos e a simplicidade na alma


Como o “Vitrola Secrets” andava meio parado, resolvi retomar os trabalhos com uma paulada, guitarra para se ouvir com o volume no talo. Este ano visitei a Expomusic (é muita tentação em um único lugar!) e conheci Oziel Filho, o Ozielzinho, músico nascido lá nas bandas do Maranhão. Quem nos apresentou foi um grande camarada que está envolvido com música até os tubos. Ainda vou falar muito dele por aqui. Assisti à apresentação do Ozielzinho com um pano de chão do lado pra ir secando a baba. Pensa num cabra bão...

Mal começou a ajustar os equipamentos, percebi que não havia expectadores, mas sim uma legião de seguidores. O povo sabia tudo do cara! Conversava com ele, pedia música, comentava os riffs antes de serem tocados, me senti um perdidaço. Mas quando a parada rolou, sabia que aquele era o lugar certo, no momento exato e já não me importava mais com quem estava ao lado. Para os que gostam de guitarristas virtuosos, Ozielzinho é completo: tem precisão, velocidade, ataque, arrebenta nos arpejos e ainda é carismático como poucos. Sem contar que vai a campo mesmo no sacrifício: estava se recuperando de um problema com o braço direito (oi?).

Assim que terminou o espetáculo e ele se juntou ao povo, comentou que seu novo trabalho, primeiro instrumental de sua carreira, estava à venda ali mesmo, no balcão ao lado. Corri para garantir o meu. Batizado de “A Procura”, o CD traz 11 faixas de muito Rock’n’Roll: Vaso Quebrado, Two Hearts, Cross, Argos, Isabella, A Procura, Wolverine, Re Menor, Rosa no Deserto, Resgate e Herança. Na primeira vez que ouvi o disco todo com a tranquilidade que se deve foi difícil acreditar que era aquele mesmo cara tocando. O peso em boa parte das músicas e a agressividade dos riffs mais paulada não combinam com o ar sereno do Ozielzinho.

O pouco contato que tive com ele foi o suficiente para ver o quanto o cabra é gente boa. Muito bom conhecer gente assim. E veja só que bacana: a faixa Isabella é uma homenagem a sua esposa. Até aí, nada de novo, pois o universo musical está cheio de histórias assim. Mas quem ouve a música entende logo não se tratar de uma composição comum. Melhor: Ozielzinho tocou a música no dia do seu casamento, para a entrada da noiva na igreja (isso está no youtube!). 


 

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Samba de roda também toca na minha vitrola


É isso aí! A mesma vitrola que toca Blues, Rock’n’Roll e Metal de montão, também toca um bom samba de roda. A “bolacha” em questão traz um encontro de gente bamba, intérpretes da mais alta categoria. Estou falando de “Pirajá – Esquina Carioca, uma noite com a raiz”, que reúne Beth Carvalho, Dona Ivone Lara, João Nogueira, Luiz Carlos da Vila, Moacyr Luz e Walter Alfaiate (em ordem alfabética que não sou besta de querer nivelar essa galera). Apesar do nome e da batida serem referências do Rio de Janeiro, esta maravilhosa mescla de vozes e instrumentos foi gravado no bar Pirajá, “em Sampa, meu”.

Quando comprei este CD, sem nunca ter ouvido alguém falar a respeito, lembrei logo de minha irmã mais velha, Roseli, que é a porção mais batucada da família. E de meu pai, o velho Venâncio, que se esbaldava ao ouvir o instrumental do samba, principalmente a linha do baixo feita pelo violão. Ele até costumava brincar com um violãozinho que a gente tinha em casa. É impossível não me recordar dos dois sempre que ouço o disco. Ainda mais a faixa oito, “Espelho”, na voz de João Nogueira. Tem lá uma frase que me emociona: “Um dia de tristeza me faltou o velho, e falta lhe confesso que ainda hoje faz”.

Outra que me faz lembrar da família é “Candeeiro de Vovó”, com Dona Ivone Lara. Conheci um candeeiro quando tinha uns sete ou oito anos de idade e visitei a cidade natal de minha avó, Dona Alice, no interior da Bahia. Lá ainda era muito comum o uso desta lamparina abastecida com querosene. Além disso, Dona Alice era da farra, adorava cantar e dançar. Figura divertidíssima!

O disco todo é excelente, e algumas faixas gosto ainda mais, como “Folhas secas”, na voz da Beth Carvalho; “Sem endereço”, com Luiz Carlos da Vila (hilário!); “O poder da criação”, com João Nogueira; e “A.M.O.R. amor”, com Walter Alfaiate. Algo que adoro na maior parte das interpretações é a diversão desse povo. A malandragem, no melhor sentido da palavra, e a alegria naturais que cada um deles carrega é contagiante. Por mais estranho que pareça, o que vejo é uma simplicidade sofisticada, pois cantam coisas simples da vida com tempero de poesia. Samba assim sempre terá lugar na minha vitrola.

Acabei não encontrando algum vídeo deste encontro, por isso deixo aqui pelo menos esta gravação do João Nogueira com “Espelho” no programa Ensaio, da TV Cultura.



quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Comprar CD ainda é muito bom


Dia desses eu navegava pelo Facebook, olhando os posts dos amigos, rindo um pouco com algumas coisas bem divertidas e me deparei com a seguinte frase: “Ainda tem gente que compra CD”. Putz! Mas é claro que tem, e eu faço parte deste grupo! Tudo bem que não tenho adquirido nada ultimamente, mas adoro comprar CDs. A autora da frase é uma amiga que chamo carinhosamente de “Patpim” (uma junção do início de seu nome com o final do sobrenome), talentosa fotógrafa, de olhar tão atento quando sensível. Uma artista! Ela ainda completou: “Acabo de comprar esse, vou ouvir no talo”. Eu também ouviria.

A aquisição da Patpim é nada mais nada menos do que Legends of Soul: The very best of Aretha Franklin & Otis Redding. Fala sério, aí é covardia! São duas “bolachinhas” que somam 42 dos maiores clássicos da Soul Music. É até difícil pensar em uma preferida, mas confesso que Otis cantando Try a little tenderness ou Satisfaction é demais. E a Aretha em Chain of fools ou Never let me go? É de arrepiar! Nem vou ficar falando sobre os discos porque vai ser uma “babação” sem fim. Só posso dizer que a minha amiga mandou muito bem nesta escolha.

Mas é claro que eu quis saber detalhes sobre a aquisição, e aí curti ainda mais a história, pois foi algo muito semelhante ao que aconteceu comigo quando comprei o Mandinga, do André Christovam (já escrevi sobre este episódio aqui no Vitrola). Ela me contou que caminhava pela João Cachoeira (uma das principais ruas do bairro Itaim, na capital paulista) quando foi atraída por um som marcante vindo de uma loja de discos.

Reconheceu a voz do Otis e, sem pestanejar, entrou. Foi direto ao dono do estabelecimento, que, segundo ela, é o suficiente para cuidar de uma loja de CDs atualmente (em tom de brincadeira, claro). Quando pergunto o que estava tocando, o cara apresentou-lhe o álbum duplo que custava R$ 50. Por um momento ela titubeou, mas apenas por um momento. Bastou uma conversinha rápida com a consciência para manter o curso do final feliz: “É tão bacana ter um CD original bom! Acho que alguns clássicos valem a pena”.

A Patpim ainda chorou um descontinho, mas não teve sucesso. Não custa nada tentar, não é verdade? Tenho certeza de que os cinquenta mangos foram muito bem investidos, e já se pagaram em seguida, pois garantiram a trilha sonora da viagem para a praia. E também estou certo de que o pessoal das gravadoras deve gostar bastante de ouvir histórias assim. Por falar nisso, já está na hora de um novo passeio pelas lojas da Galeria do Rock.

Para fechar, fica aí um pouquinho de Aretha, interpretando Respect, uma das preferidas da minha amiga Patpim.