domingo, 27 de novembro de 2016

E agora, José?

Quem trabalha com música sempre tem uma boa história sobre “saia justa”, algumas vezes divertida, outras complicada, mas na maioria delas interessante. Foi assim com o José Neto, violeiro, produtor musical e dono da Audio Multi Solutions (AMS), empresa que atua em diversas áreas: publicidade, cinema, teatro, documentários, além de arranjos e direção de projetos fonográficos para cantores e instrumentistas. Em 2005, foi convidado para mixar um disco Pop no Rio de Janeiro, sua cidade natal, em um estúdio que não conhecia bem. Achou por bem já chegar com uma referência na manga, algo que impressionasse.

Para dar um tiro certeiro, Zé Neto apostou em um nome consagrado – e bota consagrado nisso. Sua opção foi nada mais, nada menos que Quincy Jones, o produtor musical de “Thriller”, a “bolacha” mais vendida de todos os tempos e que colocou Michael Jackson no topo de todas as paradas. Jones foi indicado 79 vezes ao Grammy, o Oscar do universo da música, e premiado em 27 delas. O cabra é porreta mesmo! Para se ter ideia, logo que se meteu também no cinema, enxergou em Oprah Winfrey, lá em meados dos anos 1980, a pessoa certa para interpretar a personagem Sofia no filme “A Cor Púrpura”, um clássico sobre a história do racismo nos Estados Unidos. Na época, Oprah era uma jovem repórter de TV.

Como se o currículo de Jones não bastasse, Zé Neto também escolheu a dedo “Back on the Block”, disco lançado em 1989, com 14 faixas, que pode ser chamado de constelação, por reunir tantas estrelas – e de tão diversos estilos e gerações. Até Ivan Lins está nessa, com a gravação de “Setembro”. “É um disco moderno para a época, revolucionário, que tem a participação de Ella Fitzgerald, John MacLaughlin, Steve Wonder, entre tantos outros. É maravilhoso!”, comenta entusiasmado Zé Neto. Essa foi, provavelmente, a última gravação em estúdio de Ella e de Sarah Vaughan, lendas do Jazz.

O disco também tem Ray Charles, George Benson, Steve Lukather, Al Jarreau, Take 6, Chaka Khan, Bobby McFerrin, Ice-T, Kool Moe Dee, Barry White e por aí vai. Imagina o prestígio do Jones para juntar tanta gente de primeira. “Quando mostrei o CD para o pessoal, logo veio o comentário: Pô, esse disco é da pesada!”, lembra Zé Neto. Mas pesada mesmo ficou a situação quando abriu a caixa daquela obra-prima e trouxe à tona a tal saia justa: no lugar do “Back on the Block” havia um CD com Alcione (grande Marrom!) e Belo. Dá para imaginar o clima de “ué?!” que ficou no ar.

Passada a surpresa e feito o pedido de desculpas, o trabalho seguiu. Já a irritação de Zé Neto demorou um pouco mais para se dissipar, pois já imaginava como aquela troca havia acontecido. Mas como o objetivo do Vitrola não é semear discórdia, deixemos de lado essa parte da história e vamos em frente com Quincy Jones. Segue aí um pedacinho do “Back on the Block”, a faixa romântica “The Secret Garden”.