Quem
trabalha com música sempre tem uma boa história sobre “saia justa”, algumas
vezes divertida, outras complicada, mas na maioria delas interessante. Foi
assim com o José Neto, violeiro, produtor musical e dono da Audio Multi Solutions (AMS), empresa que atua em diversas áreas: publicidade, cinema,
teatro, documentários, além de arranjos e direção de projetos fonográficos para
cantores e instrumentistas. Em 2005, foi convidado para mixar um disco Pop no
Rio de Janeiro, sua cidade natal, em um estúdio que não conhecia bem. Achou por
bem já chegar com uma referência na manga, algo que impressionasse.
Para dar um
tiro certeiro, Zé Neto apostou em um nome consagrado – e bota consagrado nisso.
Sua opção foi nada mais, nada menos que Quincy Jones, o produtor musical de “Thriller”,
a “bolacha” mais vendida de todos os tempos e que colocou Michael Jackson no
topo de todas as paradas. Jones foi indicado 79 vezes ao Grammy, o Oscar do
universo da música, e premiado em 27 delas. O cabra é porreta mesmo! Para se
ter ideia, logo que se meteu também no cinema, enxergou em Oprah Winfrey, lá em
meados dos anos 1980, a pessoa certa para interpretar a personagem Sofia no
filme “A Cor Púrpura”, um clássico sobre a história do racismo nos Estados
Unidos. Na época, Oprah era uma jovem repórter de TV.
Como se o
currículo de Jones não bastasse, Zé Neto também escolheu a dedo “Back on the
Block”, disco lançado em 1989, com 14 faixas, que pode ser chamado de constelação,
por reunir tantas estrelas – e de tão diversos estilos e gerações. Até Ivan
Lins está nessa, com a gravação de “Setembro”. “É um disco moderno para a
época, revolucionário, que tem a participação de Ella Fitzgerald, John
MacLaughlin, Steve Wonder, entre tantos outros. É maravilhoso!”, comenta
entusiasmado Zé Neto. Essa foi, provavelmente, a última gravação em estúdio de
Ella e de Sarah Vaughan, lendas do Jazz.
O disco
também tem Ray Charles, George Benson, Steve Lukather, Al Jarreau, Take 6,
Chaka Khan, Bobby McFerrin, Ice-T, Kool Moe Dee, Barry White e por aí vai. Imagina
o prestígio do Jones para juntar tanta gente de primeira. “Quando mostrei o CD
para o pessoal, logo veio o comentário: Pô, esse disco é da pesada!”, lembra Zé
Neto. Mas pesada mesmo ficou a situação quando abriu a caixa daquela obra-prima
e trouxe à tona a tal saia justa: no lugar do “Back on the Block” havia um CD
com Alcione (grande Marrom!) e Belo. Dá para imaginar o clima de “ué?!” que
ficou no ar.
Passada a surpresa e feito o pedido de desculpas,
o trabalho seguiu. Já a irritação de Zé Neto demorou um pouco mais para se
dissipar, pois já imaginava como aquela troca havia acontecido. Mas como o
objetivo do Vitrola não é semear discórdia, deixemos de lado essa parte da
história e vamos em frente com Quincy Jones. Segue aí um pedacinho do “Back on
the Block”, a faixa romântica “The Secret Garden”.