Esta semana tem
repeteco no Vitrola. Poderia até ser surpresa, mas a “bolacha” que volta à cena
tem presença garantida – quase obrigatória – na lista das mais tocadas do universo
Rock’n’Roll. Trata-se de Road to Ruin,
dos Ramones, lançado em 1978 pela Sire Records. A faixa que mais se destaca
entre as 12 desse disco é I Wanna
Be Sedated, tanto que até rendeu um single
no ano seguinte. Também chama a atenção Needles
and Pins, a única música que não é deles. “É uma baladinha, diferente do
que eles faziam. Algo meio mela-cueca”, comenta Zé Helder, violeiro do Matuto Moderno e do Moda de Rock.
Nem pense em deboche. Zé Helder
fala com muito carinho de Road to Ruin,
o primeiro disco que comprou, lá
em meados de 1989, quando ouvia muito Punk Rock. Pode-se dizer que foi um
achado, pois àquela época dificilmente aparecia algo do estilo em Itajubá, a cidade
do sul de Minas Gerais onde Zé morava. “O que tinha era muita fita cassete que o
amigo de algum amigo ou um primo levava de São Paulo para lá. Foi assim que
acabei conhecendo Kólera e Olho Seco, por exemplo.” O violeiro lembra bem do
momento em que se deparou com o Road to
Ruin. “Encontrei o vinil na loja e não tinha grana comigo. Só pude voltar
lá no dia seguinte, rezando para ninguém tê-lo comprado. Me lembro até do
cheiro do disco”, conta o violeiro, que tem a bolacha até hoje.
Quem acompanha o
Vitrola já sacou que o Zé Helder é o parceiro do Ricardo Vignini – que também
já passou por aqui – no impressionante trabalho de tocar clássicos do Rock na
viola. Justiça seja feita, os caras fazem muito mais do que reproduzir tais
músicas, recriam esses sons com novos arranjos para esse instrumento tão
particular. “A gente se preocupa em manter o espírito do Rock’n’Roll sem deixar
de tocar viola, que é muito rica de ritmo, de mão direita. Bom, no caso do
Ricardo, de mão esquerda também”, comenta Zé em tom de brincadeira, lembrando
que seu parceiro é canhoto.
Mas a história do Zé
com a música começa bem antes de ele se tornar íntimo dos Ramones e da viola.
Ainda menino, em Cachoeira de Minas, sua cidade natal, aprendeu a tocar
clarinete na Sociedade Musical Eduardo Tenório. As aulas eram coisa séria, com
leitura de partitura, solfejo e tudo mais. Rolou até turnê. Bem, ao menos deve
ter sido essa a sensação para um garoto de dez anos ao viajar cerca de 60
quilômetros, sem a companhia dos pais, para tocar com diversas outras crianças
na cidade vizinha.
Na adolescência, já
morando em Itajubá, Zé passou a tocar contrabaixo, primeiro em uma banda que se
dedicava a covers de Rock nacional dos anos 1980 e, depois, já um lance mais
profissional com a Blues Corporation. O interesse em evoluir musicalmente só aumentou,
e o então baixista foi estudar no Conservatório Estadual Juscelino Kubitscheck,
na cidade de Pouso Alegre (também no sul de Minas). Curioso por natureza,
buscou mais informações em livros e dicas com músicos mais experientes. Para
completar, cursou Licenciatura Plena em Música pelo Conservatório Brasileiro de
Música do Rio de Janeiro.
Voltou às aulas no
conservatório de Pouso Alegre, mas dessa vez como professor. Foi lá que assistiu
a uma apresentação do Russo da Viola. “O cara estraçalhou!”, lembra Zé. Alguns
dias depois encontrou o amigo Nikolaos, que lecionava guitarra, com uma viola na
sala de aula. Não perdeu a oportunidade: tocou e se apaixonou. Em pouco tempo
já havia comprado a sua. Para se ter ideia da dedicação, ele acabou criando um
curso de viola em Pouso Alegre e outro no Conservatório Municipal de Guarulhos,
na Grande São Paulo, onde dá aulas duas vezes por semana.
Quem puder conferir o Zé
Helder ao vivo, vale muito a pena. Inclusive, caso alguém esteja em Toronto, no
Canadá, nos dias 2 e 3 de maio, o Matuto Moderno vai tocar na Canadian Music Week. “Também já arrumamos outros lugares por lá para mostrar nosso som”, diz o
“cabôco” bão dimais da conta. Como ele trouxe os Ramones de volta ao Vitrola,
vai aí o clipe de I Wanna Be Sedated.