Alguns discos têm importância tão
grande na carreira dos artistas que viram raridade. É o caso de “Pirão de peixe
com pimenta”, que marcou a trajetória de Sá e Guarabyra. A “bolacha” gravada em
1977, pela Som Livre, traz sucessos como “Sobradinho” e “Espanhola” e mostra um
estilo musical que fala de maneira cativante sobre a cultura e o cotidiano
interioranos do Brasil. O trabalho da dupla também se destaca pela elevada qualidade
técnica, sem deixar de ser popular. Imagina-se que qualquer cópia do “Pirão”
seja guardada com muito zelo e carinho. Mas nem sempre é assim.
Alguém acredita que esse disco
poderia ser encontrado no lixo? Pois foi exatamente assim que o violeiro
Ricardo Vignini descolou sua cópia. “Achei este e diversos outros vinis em uma
lixeira do prédio onde morava”, conta. Isso aconteceu lá pelos anos 1990,
quando o músico vivia na Vila Santa Catarina, zona sul da cidade de São Paulo
(SP). “É um grande disco da dupla, gravado com uma grande banda”, acrescenta. Descaso
para uns, presente para outros.
O encontro de Vignini com o disco
de Sá e Guarabyra aconteceu em um momento de reciclagem musical. Primeiro,
porque salvou a “bolacha” de um destino cruel. Segundo, porque foi naquela
época que o som digital vinha ganhando espaço e os CDs começavam a assumir o
reinado dos vinis. E, em terceiro, porque o próprio Vignini estava definindo
novos rumos para sua carreira. “Toquei guitarra por muito tempo, e comecei com
Rock pesado. Mas minha avó sempre me falava da catira e de outras coisas da
cultura musical do interior.”
Vignini descobriu que a energia buscada
no Rock’n’Roll também podia ser encontrada em um ponteado de Tião Carreiro. Daí
para a frente, sua carreira passou a girar em torno da viola. Mais do que um
dedicado instrumentista, também se tornou um pesquisador da cultura popular do
Sudeste. Inevitavelmente, foi se envolvendo com outros nomes significativos
dessa praia, ou melhor, desse campo.
Bom exemplo é o violeiro Zé Helder, com quem forma o Moda de Rock, projeto musical em que fazem versões de
grandes clássicos do Rock’n’Roll para viola. “A história começou com o intuito
de atrair a atenção dos jovens para o instrumento e foi tomando uma proporção
gigante”, diz o violeiro. Do lançamento do primeiro disco, há cinco anos, até o
final de 2015, a dupla realizou mais de 300 apresentações, dentro e fora do
Brasil. E andam com a agenda cheia.
No início de janeiro, Vignini e
Zé Helder lançaram o disco Moda de Rock II. O Vitrola foi conferir uma das
apresentações. A dupla é mesmo impressionante. Para se ter ideia da
versatilidade e da criatividade da dupla, o repertório passa por Iron Maiden,
Slayer, Ozzy Osbourne, Metallica, Pink Floyd, Queen, entre outros. No entanto,
Vignini deixa um recado para a garotada que pretende se divertir tocando
Rock’n’Roll na viola: “Primeiro tem de aprender a tocar Tião Carreiro”.
Aqui vai um vídeo de Sá e
Guarabyra tocando “Sobradinho” na TV Cultura, no programa “Viola, minha viola”,
apresentado na época pela saudosa Inezita Barroso.