Na última quinta-feira tive o
prazer de conversar, por telefone, com Luedji Luna, uma jovem artista de
Salvador-BA que escolheu a cidade de São Paulo como plataforma de projeção para
seu trabalho. Ela é cantora, compositora e dona de uma voz linda, suave e
cativante. E tem ótimo senso de humor. Suas canções são um reflexo de sua voz,
mas toda essa doçura também traz mensagens poderosas. Fiquei impressionado, por
exemplo, com a seguinte frase de “Batom”, música de sua autoria: “A vontade
reprimida é a moradia da loucura”. Luedji integra o casting da Jazz House, empresa especializada em assessoria e
produção de músicos e que está prestes a se tornar também um selo.
Tomei o cuidado de fazer toda
essa descrição para poder passar uma ideia mais clara da minha surpresa ao
perguntar sobre qual “bolacha” falaríamos. Disse a Luedji que buscava alguma
história curiosa ou engraçada, ou as duas coisas. Enquanto conversávamos ela
fez sua escolha: “Toxicity”, do System of a Down. Pensei comigo: “Ela está de
brincadeira!”. A banda californiana é uma paulada, nada tem a ver com a música
de Luedji. Veio a explicação: era um dos sons que ela mais ouvia na
adolescência.
“Toxicity” é o segundo disco do
System, gravado em 2011. Entre as 14 faixas está “Chop Suey”, uma das mais
conhecidas da banda. Os caras tem um som diferente. A mistura de velocidade e
distorção por vezes lembra uma metralhadora. Ao mesmo tempo, trazem melodias
surpreendentes, algo que sempre atraiu Luedji. “A banda é orquestral, o
vocalista tem uma voz de ópera. Das bandas de Rock que ouvia era a que eu mais
gostava”, comenta. Os pais de Luedji sabiam dessa preferência e resolveram presenteá-la
com o CD no Natal. Pretendiam fazer uma surpresa, e foram surpreendidos.
Luedji estava em seu quarto e os
pais colocaram a “bolacha” para tocar em outro lugar da casa. A ideia era que o
som a levasse à descoberta do presente. Com o volume no talo e a caixa de
ferramentas aberta, “Prison Song”, a faixa que abre o disco, causou um
pandemônio. O sorriso da adolescente brilhou assim que percebeu o petardo dominando
a casa. Já seus pais estavam desesperados tentando abaixar o volume e entender
o que era aquilo. “Filha, jamais imaginaríamos que escutasse essas coisas”,
disseram apavorados. Não pude conter as gargalhadas ao ouvir a narração de tal
episódio e, claro, prontamente me identifiquei (meus pais também não
entenderiam a razão de eu ouvir Mercyful Fate).
O Rock’n’Roll rendeu bem mais do
que uma engraça história natalina para a vida de Luedji. “O Rock é um
mosquitinho que quando te pica marca para sempre. E o que mais eu trouxe dessa
praia para o meu trabalho é a atitude, o fato de estar no palco total e genuinamente
entregue, sem caras e bocas.” Ouvir uma declaração dessas de uma cantora de Música
Popular Brasileira é sensacional. Também acredito que o Rock’n’Roll vai muito
além do estilo musical, é muito atitude.
Essa postura já acompanha Luedji
desde quando seus pais escolheram seu nome. Eles integravam uma geração de
militantes do movimento negro na década de 1970. Uma das formas de resgatar o
valor de sua raça era dar a seus filhos nomes de origem africana. Já o Luna
surgiu na adolescência e completou o nome artístico.