domingo, 21 de fevereiro de 2016

Amigo também é para essas coisas

Entre as muitas coisas boas que vêm da música está o milagre da multiplicação das amizades. Tudo bem, milagre pode ser um exagero, mas que a sintonia na preferência musical é um estímulo e tanto para aproximar novos e velhos amigos, disso não há dúvidas. No entanto, é bom lembrar: para tudo nessa vida há limites. Que o diga o jornalista Eduardo Barão, pois vai por aí a história que ele nos contou sobre uma “bolacha” que nunca teve.

O disco em questão é VS., o segundo gravado pelo Pearl Jam e lançado em outubro de 1993. “É aquele com uma ovelha na capa”, detalha Barão. Com 12 faixas, VS. tem um som pesado na maior parte do tempo, chegando a ser sombrio em certos momentos. A energia peculiar da banda está muito presente. Experimente colocar Go, a faixa de abertura, como som de seu despertador e vai entender bem o que isso significa. Algumas das músicas mais tocadas na época são as menos “paulada”, como Daugther, Dissident e Elderly woman behind the counter in a small town.

Voltando à relação entre música e amizade, a admiração pelo Pearl Jam é compartilhada por Eduardo Barão com o amigo de infância e também jornalista Luiz Megale. Talvez a medida da predileção seja um pouco diferente. “O Megale queria ser o primeiro cara no Brasil a comprar o VS.”, explica Barão. Se havia um ponto estratégico para fechar o cerco em torno da primeira cópia de VS., em São Paulo (ambos moram na capital paulista), esse lugar era Galeria do Rock, no centro velho da cidade.

Pois bem, a aventura começou bem cedo no dia em que o disco chegaria ao País. “Praticamente abrimos a Galeria. Mas logo soubemos que o disco só estaria lá um pouco mais tarde”, recorda Barão. Durante toda a manhã, os dois não arredaram pé do local, buscando loja por loja. Após o almoço, ali pelo centrão mesmo, retornaram para o segundo turno da jornada.

A rotina não foi diferente: peregrinação pelas lojas sem que o VS. aparecesse. Diga-se de passagem, o nome da bolacha era bem sugestivo para a situação. “O dia terminou e ainda estávamos lá, sem o disco”, conta Barão, que acabou por deixar o campo de batalha. “Eu já tinha feito a minha parte de amigo.” É, tudo tem limite, até montar guarda a espera de um lançamento do Pearl Jam.

Mas, Barão, e o Megale? “Continuou lá por mais um tempo, sem sucesso. No dia seguinte, voltou à Galeria e conseguiu o CD”, responde. E acrescenta: “Até hoje ele acredita ter sido um dos primeiros brasileiros a adquirir o VS.”. Depois dessa experiência, nem mesmo a admiração pela banda e pelo próprio disco fez com que o Barão tivesse sua própria cópia. “O VS. é muito bom, já ouvi umas quinhentas vezes. Mas nunca comprei.”

A amizade de Barão e Megale ficou bastante conhecida pelos ouvintes da Rádio Band News FM, pois os dois trabalharam juntos apresentando a programação matutina da emissora. Barão continua nas ondas radiofônicas (entre outras missões no Grupo Bandeirantes) e Megale está na bancada do Café com Jornal, nas manhãs televisivas da Band.

Aqui vai uma pitada do VS., com o Pearl Jam tocando Dissident ao vivo.