quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Quero ver ficar parado com este som


Uma das coisas mais maravilhosas da música está no quanto ela mexe com nossas emoções: faz rir e chorar, faz lembrar e comemorar, faz sofrer e celebrar, enfim, chacoalha tudo lá dentro da gente. Mas a música também faz a gente chacoalhar tudo do lado de fora. E se for da cultura latina, ainda mais. Pois não é que xeretando na vitrola de dois grandes amigos da época da faculdade encontrei a trilha sonora de The Mambo Kings?

Não me lembro de ter assistido o filme, lançado em 1992, mas pelo que li trata-se da história de dois irmãos, músicos cubanos que, no início dos anos 1950, deixam sua terra natal rumo aos Estados Unidos. Obviamente, a música permeia as diversas emoções de toda a trama, estrelada por Antonio Banderas e Armand Assante. Mas como o papo aqui é a vitrola e não o projetor, vamos ao que mais interessa. 

As 16 faixas do disco são interpretadas por nomes como Arturo Sandoval, Benny Moré, Celia Cruz, Linda Ronstadt, Los Lobos, Mambo All-Stars e Tito Puentes. E ainda tem participação do próprio Banderas, com o Mambo All-Stars, cantando a faixa oito – Bella Maria De Mi Alma –, que me trouxe boas lembranças de meu pai. O velho Venâncio adorava esse estilo de música! Certamente iria se esbaldar ouvindo a “bolacha” comigo. Fico imaginando qual seria sua satisfação ao escutar a bela introdução de violão seguida pela voz de Linda Ronstadt em Perfídia, a faixa 11; ou a seguinte, com Celia Cruz interpretando Guantanamera. Difícil não me emocionar...

Mas como já é praticamente sexta-feira, quero falar da vontade que dá de sair dançando ao ouvir essa trilha. É neste ponto que volto a citar o casal de quem tomei emprestado o disco. Anahi e Tony dançam praticamente qualquer coisa! Não entendo nada de dança, então evito dizer se o fazem corretamente (por certo, cometeria alguma injustiça). O que sei é que os caras contagiam. Não há quem os veja flutuando pelo salão sem ser tomado por uma imensa vontade de fazer o mesmo. Claro, uma minoria se arrisca. Estou com a maioria!

Uma das faixas que mais gostei é a número dois – Ran Kan Kan – com Tito Puentes. Tem muita percussão e muito trompete. É o tipo de música que faz todo mundo se divertir, em especial os instrumentistas, pois o que tem de espaço para improvisar é brincadeira. A quarta faixa, com Arturo Sandoval, é auto-explicativa: Mambo Caliente. É tudo muito intenso nesta música! O disco fecha com Beautiful Mary Of My Soul, uma versão em inglês da faixa oito. E quem interpreta? Los Lobos, sim, aquela mesma galera de La Bamba. Esta é uma boa maneira de começar o final de semana. Aí vai uma palhinha do que há no filme (agora quero muito assistir!).



quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Pra ser Blues, precisa vir da alma


Sempre que fico realmente impressionado com o talento de um guitarrista, costumo dizer que quando o cara chega em casa a guitarra abana o rabinho. Mas se “o cara” fosse o Stevie Ray Vaughan, aí a guitarra abanaria o rabo, daria pirueta, deitaria e rolaria, faria de tudo. Só não conseguiria se fingir de morta. Por falar nisso, no dia 27 de agosto, faz 22 anos que ele se foi. E esse post é uma homenagem. Stevie morreu em 1990, em um acidente de helicóptero, e faz muita falta. Se me pedissem para citar os três guitarristas de Blues que mais gosto (o que seria muita maldade, fala a verdade?!), SRV estaria nela.

Sem dúvida alguma, tem SRV na minha vitrola. Mais que isso, também tem na minha humilde coleção de DVDs. Stevie Ray Vaughan and Double Trouble Live From Austin, Texas é uma mostra de dois shows marcantes, pois mostra momentos bem distintos da carreira do guitarrista tocando no Austin City Limits ao lado de Tommy Shannon (baixo) e Chris Layfon (bateria) – o Double Trouble –, exatamente no estado onde nasceu.

A primeira apresentação, em 1983, mostra um SRV irreverente, ousado, surpreendente e hipnotizante, como sempre. Com um figurino muito peculiar, o bluesman deixa explícita sua intimidade com a boa e velha (e surrada, bem surrada!) Fender. No meio de Texas Flood, por exemplo, como num passe de mágica, o cara solta um lado da correia da guitarra e quando coloca de novo está tocando a danada atrás das costas. Confesso que demorei um pouco pra entender o que ele havia feito. Apesar de toda essa magia, há o outro lado do show: SRV parece estar tocando mais para si mesmo do que para o público.

Em 1989, SRV e o Double Trouble voltam acompanhados do tecladista Reese Wynans. Repaginados, fazem uma apresentação bem diferente. Agora com 35 anos de idade, SRV se mostra mais à vontade, mais maduro e conectado com a plateia. Continuam valendo os mesmos adjetivos do parágrafo anterior, e é notório que o guitarrista está sóbrio, seja no sentido figurado ou literal (pelo que li sobre o show, ele havia abandonado o álcool e as drogas). Até sua voz tem mais brilho. A combinação de todos esses fatores envolve as pessoas ao redor, que correspondem e agradecem.

Acho que SRV é o “bluseiro” mais Rock’n’Roll que já ouvi. E digo que é, assim mesmo no presente, porque esse cara é imortal, tal qual Jimmy Hendrix, Gary Moore e alguns outros gênios musicais. Vai aí um pouquinho do talento de SRV com Crossfire.