segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Escrever na capa do The last in line é um pecado

Imagino o trabalhão que deve ser produzir a capa de um disco. É o retrato do conteúdo, um cartão de visita. Nos álbuns de Rock’n’Roll, mais ainda, pois o público é exigente demais – e me incluo nesse grupo. A gente quer ver obra de arte, desenhos marcantes, imagens tão surpreendentes – e até contundentes – que mereçam um pôster, uma estampa na camiseta, um quadro, uma tattoo, enfim, é uma homenagem aos artistas.

Claro, há discos que deveriam vir com uma embalagem em branco e uma caixinha de lápis de cor. Aí cada um preencheria como achasse melhor. Deixemos esses de lado, pois quero falar das capas memoráveis, tratadas com o devido respeito. É o caso de outro disco que só tenho em vinil: The last in line, segundo álbum solo de Ronnie James Dio (o primeiro foi Holy Diver), lançado em 1984, um espetáculo.

A capa e a contracapa são uma única imagem. Na frente, cores que lembram as chamas e o calor de um incinerador, um forno gigante onde são dizimados os pecadores, uma visão infernal. Ao centro, o desenho do mesmo demônio que aparece na capa do Holy Diver. O outro lado é a parte sombria que mostra a fila das almas penadas sendo conduzidas ao seu macabro fim. Essa é meramente a minha versão da ilustração, com uma pitada de “Mojica”. Em resumo, é um verdadeiro inferno. 

Mas infernal mesmo é o despautério (uau, gastei agora!) que inventaram de escrever na capa do disco. Aqui vem história tragicômica desse vinil. Comprei o LP de um colega do trabalho que gostava de alguns clássicos do Rock, mas era reprimido pela noiva que detestava qualquer som de guitarra com distorção. Mas em um momento de rebeldia, o camarada mostrou o que é ser amante do som pesado e confrontou o sistema, adquiriu sua cópia do The last in line. Isso mesmo, logo um disco do Dio, com demônio na capa e tudo para chocar e deixar bem claro: You can’t stop Rock’n’Roll.

É o escambau! Para evitar qualquer tipo de conflito desnecessário com o sistema – a noiva, no caso –, ele escreveu uma dedicatória para si mesmo, em nome de outra pessoa. Como censurar um presente, não é mesmo? Mas não podia ter colocado um cartão, um bilhete, uma carta, um pergaminho, precisava escrever na capa do disco? Nove linhas de dedicatória na capa?

Como nada é tão ruim que não possa piorar, achei que seria importante também escrever na capa para deixar claro que o disco era meu (se é possível amenizar o grau do pecado, eu tinha apenas 15 anos). O álbum é tão bom que não poderia guardar apenas para mim. Acabei emprestando-o para um amigo. Acho que ele ficou animado com tanta coisa escrita naquela capa que decidiu me deixar um autógrafo. Fala sério, quem assina a capa de um disco que pegou emprestado? Hoje eu dou risada disso tudo, mas é para chorar.

Vai aí o clipe da faixa título, essa sonzeira em que Dio tem a companhia do genial Vivian Campbell na guitarra, Vinni Apice na bateria, Jimmy Bain no baixo e Claude Schnell nos teclados.