Imagino o trabalhão que deve ser produzir a capa de um
disco. É o retrato do conteúdo, um cartão de visita. Nos álbuns de Rock’n’Roll,
mais ainda, pois o público é exigente demais – e me incluo nesse grupo. A gente
quer ver obra de arte, desenhos marcantes, imagens tão surpreendentes – e até
contundentes – que mereçam um pôster, uma estampa na camiseta, um quadro, uma
tattoo, enfim, é uma homenagem aos artistas.
Claro, há discos que deveriam vir com uma embalagem em
branco e uma caixinha de lápis de cor. Aí cada um preencheria como achasse
melhor. Deixemos esses de lado, pois quero falar das capas memoráveis, tratadas
com o devido respeito. É o caso de outro disco que só tenho em vinil: The last in line, segundo álbum solo de
Ronnie James Dio (o primeiro foi Holy Diver), lançado em 1984, um espetáculo.
A capa e a contracapa são uma única imagem. Na frente, cores
que lembram as chamas e o calor de um incinerador, um forno gigante onde são dizimados
os pecadores, uma visão infernal. Ao centro, o desenho do mesmo demônio que aparece
na capa do Holy Diver. O outro lado é a parte sombria que mostra a fila das
almas penadas sendo conduzidas ao seu macabro fim. Essa é meramente a minha
versão da ilustração, com uma pitada de “Mojica”. Em resumo, é um verdadeiro inferno.
Mas infernal mesmo é
o despautério (uau, gastei agora!) que inventaram de escrever na capa do disco.
Aqui vem história tragicômica desse vinil. Comprei o LP de um colega do
trabalho que gostava de alguns clássicos do Rock, mas era reprimido pela noiva que
detestava qualquer som de guitarra com distorção. Mas em um momento de
rebeldia, o camarada mostrou o que é ser amante do som pesado e confrontou o
sistema, adquiriu sua cópia do The last
in line. Isso mesmo, logo um disco do Dio, com demônio na capa e tudo para chocar
e deixar bem claro: You can’t stop
Rock’n’Roll.
É o escambau! Para evitar qualquer tipo de conflito
desnecessário com o sistema – a noiva, no caso –, ele escreveu uma dedicatória
para si mesmo, em nome de outra pessoa. Como censurar um presente, não é mesmo?
Mas não podia ter colocado um cartão, um bilhete, uma carta, um pergaminho,
precisava escrever na capa do disco? Nove linhas de dedicatória na capa?
Como nada é tão ruim que não possa piorar, achei que seria
importante também escrever na capa para deixar claro que o disco era meu (se é
possível amenizar o grau do pecado, eu tinha apenas 15 anos). O álbum é tão bom
que não poderia guardar apenas para mim. Acabei emprestando-o para um amigo.
Acho que ele ficou animado com tanta coisa escrita naquela capa que decidiu me
deixar um autógrafo. Fala sério, quem assina a capa de um disco que pegou
emprestado? Hoje eu dou risada disso tudo, mas é para chorar.
Vai aí o clipe da faixa título, essa sonzeira em que Dio tem
a companhia do genial Vivian Campbell na guitarra, Vinni Apice na bateria,
Jimmy Bain no baixo e Claude Schnell nos teclados.