A proposta do Vitrola Secrets é contar
uma curiosidade sobre a discoteca de alguém. Nesta semana vale a exceção. Quem
conversou com o Vitrola foi Robertinho de Recife, um dos principais nomes do
Brasil quando o assunto é guitarristas, que falou sobre um disco importantíssimo
em sua carreira, o Metal Mania. A
“bolacha” foi gravada em 1984, pela
RCA, e também marcou a história do Heavy Metal nacional. A entrevista, que aconteceu
no camarim do Sesc Pinheiros, em São Paulo (SP), mais parecia um bom bate-papo
de boteco – só faltaram as cervejas geladas.
O que não faltou foi gargalhada,
pois Robertinho é muito bem-humorado. Mesmo ao lembrar das dificuldades para
produzir o Metal Mania. “As
gravadoras não acreditavam no Metal, ainda mais brasileiro. Insisti com a RCA que
estava fazendo sucesso, as pessoas cantavam as músicas, ia dar certo. A reposta
foi que ‘aquilo’ não tocaria nas rádios”, relata. Não fosse o respeito
profissional que já havia conquistado na década de 1980, teria sido ainda mais
complicado.
“Mas eles tinham uma proposta”,
diz Robertinho. "Na verdade, era uma condição." O diretor artístico da gravadora aceitaria
o Metal Mania caso o guitarrista
participasse de outro projeto: gravar com o grupo infantil Trem da Alegria a música
É de Chocolate!. Robertinho ouviu a
música e sua reação não foi das melhores: “Essa música é uma meeeeeerda! De quem
é isso?”. Para sua surpresa, o próprio diretor artístico em questão era um dos
autores. Apesar da saia-justa, ficou tudo bem e Robertinho cumpriu sua parte no
acordo. É de Chocolate virou hit e ainda
rendeu disco de platina em poucas semanas.
Era hora da diversão. Só que não.
As gravações de Metal Mania
aconteceram em um estúdio da Som Livre. Com os amplificadores Marshall do
Robertinho a todo vapor, o som acabou vazando para o andar de cima e incomodou
a “realeza”. Roberto Carlos também estava gravando por lá. “No primeiro dia já
vieram dizer que deveríamos ir para outro estúdio ou esperar que o Roberto
terminasse as gravações dele”, conta Robertinho, que bateu o pé e continuou por
ali.
Um técnico inglês que trabalhava na
gravadora sugeriu a utilização de cabines para proteger o som. Assim foi feito.
“Ficou tudo abafado! Não se grava Heavy Metal desse jeito. Imagina a bateria
toda abafada”, reclama – com razão – Robertinho. Como nada é tão ruim que não
possa piorar, aquilo tudo não foi suficiente e ainda tiveram que baixar o
volume para continuar. “Foi um horror!”
Apesar dos contratempos, o vinil
foi para as ruas e fez muito sucesso. Robertinho era um guitarrista muito
arrojado para aquela época, “domava” o instrumento como poucos encantando um
público que costuma ser muito exigente. A técnica apurada e o virtuosismo
levaram o músico a diversas conquistas. Tocou, por exemplo, com Gloria
Estefan, no Miami Sound Machine, e estourou nas paradas nacionais com o grupo
Yahoo e a música Mordida de Amor (uma
versão de Love Bites, do Def
Leppard), entre outras. No final de 2014, com a banda Metal Mania renovada, gravou Back for More pela Sony Music. Em 2015,
o retorno aos palcos o encheu de energia para continuar tocando com em alto e
bom som.
Como não poderia deixar de ser, veio
a pergunta sobre outro assunto marcante na vida de Robertinho: “E Baby Doll de Nylon?”. A música, que é fruto
de uma parceria com Caetano Veloso e está no disco Robertinho do Mundo (Ariola, 1983), é um sucesso no Youtube. A
forma como a composição surgiu não é novidade, mas ouvir o próprio Robertinho
contando não tem preço. Ele resume como Baby
Doll o tem acompanhado por todos os lugares. “Recentemente, fomos tocar em um festival de
Metal em Recife e lá pelas tantas parte da plateia pediu para tocarmos Baby Doll. Achei que era de sacanagem,
mas era sério. Quando disse que atenderíamos ao pedido, veio todo mundo para a
frente do palco. É uma coisa impressionante!”
No vídeo abaixo, um pouco do
talento de Robertinho de Recife com uma das músicas do Back for More.