domingo, 24 de janeiro de 2016

Com o Robertinho de Recife o volume é sempre alto

A proposta do Vitrola Secrets é contar uma curiosidade sobre a discoteca de alguém. Nesta semana vale a exceção. Quem conversou com o Vitrola foi Robertinho de Recife, um dos principais nomes do Brasil quando o assunto é guitarristas, que falou sobre um disco importantíssimo em sua carreira, o Metal Mania. A “bolacha” foi gravada em 1984, pela RCA, e também marcou a história do Heavy Metal nacional. A entrevista, que aconteceu no camarim do Sesc Pinheiros, em São Paulo (SP), mais parecia um bom bate-papo de boteco – só faltaram as cervejas geladas.

O que não faltou foi gargalhada, pois Robertinho é muito bem-humorado. Mesmo ao lembrar das dificuldades para produzir o Metal Mania. “As gravadoras não acreditavam no Metal, ainda mais brasileiro. Insisti com a RCA que estava fazendo sucesso, as pessoas cantavam as músicas, ia dar certo. A reposta foi que ‘aquilo’ não tocaria nas rádios”, relata. Não fosse o respeito profissional que já havia conquistado na década de 1980, teria sido ainda mais complicado.

“Mas eles tinham uma proposta”, diz Robertinho. "Na verdade, era uma condição." O diretor artístico da gravadora aceitaria o Metal Mania caso o guitarrista participasse de outro projeto: gravar com o grupo infantil Trem da Alegria a música É de Chocolate!. Robertinho ouviu a música e sua reação não foi das melhores: “Essa música é uma meeeeeerda! De quem é isso?”. Para sua surpresa, o próprio diretor artístico em questão era um dos autores. Apesar da saia-justa, ficou tudo bem e Robertinho cumpriu sua parte no acordo. É de Chocolate virou hit e ainda rendeu disco de platina em poucas semanas.

Era hora da diversão. Só que não. As gravações de Metal Mania aconteceram em um estúdio da Som Livre. Com os amplificadores Marshall do Robertinho a todo vapor, o som acabou vazando para o andar de cima e incomodou a “realeza”. Roberto Carlos também estava gravando por lá. “No primeiro dia já vieram dizer que deveríamos ir para outro estúdio ou esperar que o Roberto terminasse as gravações dele”, conta Robertinho, que bateu o pé e continuou por ali.

Um técnico inglês que trabalhava na gravadora sugeriu a utilização de cabines para proteger o som. Assim foi feito. “Ficou tudo abafado! Não se grava Heavy Metal desse jeito. Imagina a bateria toda abafada”, reclama – com razão – Robertinho. Como nada é tão ruim que não possa piorar, aquilo tudo não foi suficiente e ainda tiveram que baixar o volume para continuar. “Foi um horror!”

Apesar dos contratempos, o vinil foi para as ruas e fez muito sucesso. Robertinho era um guitarrista muito arrojado para aquela época, “domava” o instrumento como poucos encantando um público que costuma ser muito exigente. A técnica apurada e o virtuosismo levaram o músico a diversas conquistas. Tocou, por exemplo, com Gloria Estefan, no Miami Sound Machine, e estourou nas paradas nacionais com o grupo Yahoo e a música Mordida de Amor (uma versão de Love Bites, do Def Leppard), entre outras. No final de 2014, com a banda Metal Mania renovada, gravou Back for More pela Sony Music. Em 2015, o retorno aos palcos o encheu de energia para continuar tocando com em alto e bom som.

Como não poderia deixar de ser, veio a pergunta sobre outro assunto marcante na vida de Robertinho: “E Baby Doll de Nylon?”. A música, que é fruto de uma parceria com Caetano Veloso e está no disco Robertinho do Mundo (Ariola, 1983), é um sucesso no Youtube. A forma como a composição surgiu não é novidade, mas ouvir o próprio Robertinho contando não tem preço. Ele resume como Baby Doll o tem acompanhado por todos os lugares. “Recentemente, fomos tocar em um festival de Metal em Recife e lá pelas tantas parte da plateia pediu para tocarmos Baby Doll. Achei que era de sacanagem, mas era sério. Quando disse que atenderíamos ao pedido, veio todo mundo para a frente do palco. É uma coisa impressionante!”

No vídeo abaixo, um pouco do talento de Robertinho de Recife com uma das músicas do Back for More.