No início dos anos 2000, um dos
principais nomes do Heavy Metal internacional, o Metallica, passou a atrair os
holofotes muito mais por conta de questões judiciais do que pela performance
nos palcos ou por algum lançamento. A banda, que sempre teve uma legião de
adolescentes entre os milhões de fãs pelo mundo, engrossava a queda de braço da
indústria fonográfica exatamente com um jovem que aos 18 anos bolou uma forma
de compartilhar músicas pela internet, deixando muita gente de cabelo em pé ou,
em certos casos, sem cabelo.
A pesada treta entre o ícone do
Metal e Shawn Fanning, criador do Napster, deixou claro que as coisas estavam
mudando – e rápido – no cenário musical. Na verdade, continuavam a mudar.
Exemplo de que o destino pode ser bem irônico, e até cômico, foi algo
semelhante ao Napster que levou o Metallica a se popularizar entre os headbangers brasileiros. Na década de
1980, quando a banda surgiu, era por meio das fitas K-7, precursoras dos pen drives, que a rapaziada
compartilhava o que havia de novo no front
do som pesado.
Foi assim que, naquela época, muita
gente soube que vinha por aí um tal de Kill
’Em All, o primeiro disco do Metallica. É o caso de Evandro Junior, baterista
e um dos fundadores do Anthares, banda paulistana de Metal nascida em 1985. Junior
também era um dos vários moleques de camiseta preta que batiam cartão (ninguém
mais bate cartão, mas a expressão ainda é válida, não é?) na Woodstock Discos.
A lendária loja do Vale do Anhangabaú, no centro velho de São Paulo, provavelmente
reunia a maior concentração de cabeludos por metro quadrado da cidade.
Mas o primeiro encontro do Junior
com o Metallica aconteceu quando a Woodstock ainda ficava na Rua José
Bonifácio, também nas proximidades. “Era um espaço pequeno, na sobreloja de uma
galeria. E tinha um japonês que ficava na entrada vendendo umas fitas de coisas
que só tinha na gringa”, lembra. “Um
dia ele me perguntou se eu conhecia Metallica e colocou para eu ouvir. Era uma
porrada!”
A fita era uma mostra do que
viria a ser o Kill ‘Em All e ainda com
seguinte formação: James Hetifield (guitarra e voz), Lars Ulrich (bateria),
Cliff Burton (baixo) e, tchanans!, Dave
Mustaine (guitarra). Quem conhece a trajetória da banda sabe que essa é uma
informação importante, pois Mustaine foi expulso da banda (mais de uma vez)
devido às confusões com o próprio grupo. Digamos que ele era um tanto quanto
esquentadinho demais. Quem aparece no encarte do disco é Kirk Hammett.
Empolgado com o som, Junior
comprou a fita e correu para compartilhar. “Fui eu que apresentei o Metallica
para o Walcir”, conta o batera todo orgulhoso, falando de Walcir Chalas, o dono
da loja. Realmente, esse é um feito para se gabar, pois o fundador da Woodstock
consagrou-se com um baita “garimpeiro” das novidades do Metal. Não era fácil
surpreendê-lo. Quando Kill ‘Em All
saiu, em julho de 1983, logo já estava também nas mãos de Walcir.
Quem quiser
conhecer um pouco da história desse bravo “guerreiro” do Metal, vale a pena
assistir ao documentário Woodstock – Mais
Que Uma Loja (disponível no Netflix). Muitos vão se surpreender com sua
influência nesse cenário e um monte de marmanjo vai se emocionar ao lembrar do
tempo em que não abria mão de visitar a loja ao menos uma vez por semana.
Vai aí uma mostra do Metallica ao vivo com The Four Horsemen, uma das faixas mais
marcantes do Kill ‘Em All. Agora,
imagina essa paulada lá no início dos anos 1980.